Na região onde o rio Amazonas encontra o Oceano Atlântico, existem inúmeras belezas naturais para se admirar, mas também riscos climáticos silenciosos que estão se aprofundando.
Ao sair de barco de Belém em direção ao município de Barcarena, muitos talvez não notem uma construção branca e azul, à beira do rio, com um telhado triangular, repleto de painéis solares. Mas ali existe um exemplo notável de que é possível proteger crianças que vivem em áreas remotas dos piores impactos da crise do clima.
Pará, Brasil. Na região onde o Rio Amazonas encontra o Oceano Atlântico, existem inúmeras belezas naturais para admirar, mas também riscos climáticos silenciosos que estão se agravando
Um ambiente seguro e sustentável para as crianças
A Escola Municipal Maria Naura Gouvêa coloca em prática, há três anos, um dos temas em debate na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, COP30: a adaptação a um mundo repleto de eventos climáticos perigosos.
O local conta com uma arquitetura de alvenaria resistente a enchentes e erosões, telhas termoacústicas, que regulam o calor, energia solar e internet por satélite. Além disso, diferentemente de outras escolas da região, as crianças têm acesso à água de qualidade graças a um poço de 150 m perfurado no terreno.
Ao chegar ao local, o diretor-executivo do Escritório da ONU para Redução do Risco de Desastres, Undrr, chamou a Escola Municipal Maria Naura Gouvêa de “uma luz guia”, capaz de inspirar esforços de adaptação em outras escolas do país e do mundo. Kamal Kishore disse que gostaria de ver pelo menos 100 mil escolas dessas espalhadas pelo globo.
Secas, erosões e aumento do nível do mar
O prefeito de Barcarena, Renato Ogawa, relatou que a região não vivencia eventos extremos como chuvas intensas ou uma super maré, mas sofre com impactos discretos e silenciosos da mudança do clima, que prejudicam as crianças.
“O principal evento são as secas dos rios e igarapés, que fazem com que os alunos uma semana consigam chegar de barco, mas na semana seguinte, por conta da incidência de maré, ela já não consegue chegar no horário da escola e tem que andar as encostas, áreas de praias de água doce, que pela elevação do nível (do mar) começou a entrar, causando a erosão. E foi preciso que nós fizéssemos contenções pra frear isso. E se nada for feito, a tendência é que ao longo dos anos a gente precise levantar, aumentar o tamanho desse muro”.
Outro desafio trazido pelo aumento do nível do mar, é a mudança nos fluxos de peixes que servem de base para a alimentação local, pois a água dos rios está ficando mais salgada.
Em Barcarena, Pará, Brasil, as crianças aprendem sobre preparação para desastres e cuidados com o meio ambiente em todas as escolas
Valorização de líderes locais
Como reconhecimento aos esforços para enfrentar esses desafios, em 2023, Barcarena foi nomeada pela ONU como o 25º Centro de Resiliência do mundo e o primeiro da região Amazônica.
A diretora-executiva da ONU Habitat, Anaclaudia Rossbach também participou da visita e disse que a COP30 precisa valorizar os líderes locais que estão levando adiante a implementação de estratégias que salvam vidas.
“Essa COP e essa visita ajudaram bastante a chamar a atenção sobre as necessidades da população que vive nas cidades, aqui na floresta e no mundo. A gente precisa proteger as pessoas para proteger o planeta. O segundo aspecto é a importância do governo local, da ação local e do protagonismo local”.
Segundo ela, no entanto, apenas o reconhecimento não basta, ele precisa vir acompanhado de “mecanismos sólidos e robustos para implementação”.
“Uma exceção na Amazônia”
O ministro das Cidades do Brasil, Jader Filho, acompanhou a comitiva e disse que líderes como o prefeito de Barcarena precisam ser valorizados e receber apoio com investimentos financeiros.
Filho comentou que essa escola “é uma exceção” e não representa a realidade da educação na Amazônia, mas “mostra o que é possível fazer quando existe financiamento e decisão política”.
Ele destacou os esforços de conscientização das crianças em Barcarena, que em todas as escolas aprendem sobre preparação para desastres e sobre cuidados com o meio ambiente.
Estudantes resilientes
A comitiva teve a oportunidade de conhecer projetos de alunos de várias escolas de Barcarena, que falaram do reaproveitamento de óleo de cozinha para fazer sabão, produção de tintas naturais não poluentes, usando por exemplo beterraba e cenoura, e plantio de árvores para lidar com as altas temperaturas.
A aluna Lyndisse Wandra Santos contou que “cada árvore plantada é um gesto de amor e esperança, se adaptar é seguir em frente mesmo diante das dificuldades”.
Já Kamal Kishore informou que se sente extremamente inspirado pela maneira como as crianças imaginam o futuro, aprendendo sobre resiliência e sobre o que precisam fazer, individualmente, em suas famílias e em suas comunidades.
Ele disse esperar que a COP30 sirva para ampliar o investimento na redução do risco de desastres. O líder do Undrr disse que “o Brasil é um caso de sucesso”, explicando que mais de 2 mil cidades em todo o mundo fazem parte da campanha “Construindo Cidades Resilientes” e muitas delas são brasileiras.
Nos últimos três anos, a Escola Municipal Maria Naura Gouvêa, no Pará, Brasil, vem colocando em prática um dos temas debatidos na COP30: a adaptação a um mundo repleto de eventos climáticos perigosos
O legado da COP30
O prefeito de Barcarena disse que a COP30 já deixou um legado para a cidade, antecipando investimentos que vão garantir, até o fim do ano, 90% do esgoto tratado e 95% do município com água potável. Sem esse aporte, chegar nessa meta levaria de 10 a 15 anos.
Para os próximos anos, ele pretende focar em transição energética do combustível usado no transporte público, em especial nos barcos que levam as crianças para as escolas espalhadas pelas ilhas da região.
Anaclaudia Rossbach destacou que muitas cidades precisam desse tipo de investimento em infraestrutura, com atenção especial na moradia, pois milhões de pessoas vivem em situação precária e estão ameaçadas.
Alunos da Escola Municipal Maria Naura Gouvêa, em Barcarena, Pará, Brasil
COP da Floresta e das Cidades
Ela citou como exemplo a favela da Maré, no Rio de Janeiro, que está registrando 6°C acima da temperatura média da cidade, de acordo com dados reunidos pelos próprios moradores.
A diretora-executiva do ONU Habitat afirmou que sai de Belém com grandes expectativas de que essa que está sendo chamada de “COP da Floresta” também reforce a pauta das cidades, com foco na proteção dos mais vulneráveis.
A visita de alto nível também incluiu a assinatura do Protocolo de Cooperação entre o Ministério das Cidades e o Município de Barcarena para o desenvolvimento do Plano Municipal de Redução de Riscos de Desastres, e marcou o lançamento do relatório conjunto Undrr e do Programa Mundial de Alimentos sobre segurança alimentar no município.
O objetivo é analisar os impactos das mudanças do clima na produção e no abastecimento de alimentos.
*Felipe de Carvalho é enviado especial da ONU News à COP30, no Brasil.
Source of original article: United Nations / Nações Unidas (news.un.org). Photo credit: UN. The content of this article does not necessarily reflect the views or opinion of Global Diaspora News (www.globaldiasporanews.net).
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