Em meio aos debates sobre justiça climática, a voz das mulheres está se destacando e cobrando que a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, COP30, deixe um legado importante do nexo entre clima e gênero.

Os negociadores atuam no Plano de Ação de Gênero de Belém, que reconhece que as mudanças climáticas têm um impacto específico sobre as mulheres. O texto sobre a mesa propõe medidas que fomentam financiamento, formação e papel de liderança para elas.

Delegados continuam as negociações durante a sessão de Mobilização Mutirão na COP30, que está sendo realizada em Belém, Brasil

“Só há justiça climática se houver igualdade de gênero”

O plano vigora de 2026 a 2034 e, caso aprovado, pode reforçar a base normativa para abordagens sensíveis a gênero em transições justas, estratégias de adaptação e mitigação, bem como mecanismos de perdas e danos.

A representante interina da ONU Mulheres no Brasil, Ana Carolina Querino, afirmou que “só há justiça climática se houver igualdade de gênero”.

A ONU News também ouviu duas mulheres na COP30 que contribuem para enfrentar as mudanças climáticas com um olhar na situação de meninas e mulheres. Elas compartilharam suas histórias, mostrando o valor do apoio a lideranças femininas.

Catadores evitam emissão de toneladas de gases

A brasileira Nanci Darcolete, de 49 anos, trabalha como catadora de materiais recicláveis desde 1999 nas ruas de São Paulo. Atualmente, ela lidera a organização Pimp My Carroça, que luta pelos direitos desses profissionais, responsáveis por transformar resíduos em recursos, evitando que toneladas de lixo sejam jogados na natureza ou queimados em aterros sanitários.

Ela contou à ONU News, que os catadores tiveram uma participação histórica na COP30, mostrando sua contribuição para reduzir a emissão de gases que causam o aquecimento global e aliviar a pressão sobre os recursos naturais do planeta.

“A gente agora vê que é super importante os catadores também trabalharem na reciclagem do lixo orgânico. Isso também vai gerar uma economia para o município, vai gerar um ganho para a categoria de catadores e vai capturar toneladas e toneladas de gases, gerando aí uma mitigação muito grande a captura de gases pesados no meio ambiente”.

As líderes da reciclagem

No Brasil, as mulheres são maioria na catação e lideram a maior parte das cooperativas, mas ainda sofrem nas ruas com racismo e violência de gênero. Além disso, precisam conciliar o trabalho com os cuidados com a casa, filhos e netos.

Nanci explicou que uma grande preocupação das catadoras é com o aumento do calor e das enchentes causadas pelas mudanças climáticas, que dificultam ainda mais as condições de trabalho, especialmente nas periferias.

Ela demandou que a agenda de adaptação discutida na COP30 valorize esses profissionais como “agentes de transformação”, melhorando a logística urbana para que eles percorram menos quilômetros, recebam hidratação adequada e tenham acesso a contratos remunerados.

Jovem portuguesa é pioneira em litígio climático

Do outro lado do Atlântico, a jovem portuguesa Mariana Gomes, de 24 anos, encontrou no direito a “ferramenta mais importante” para combater a crise climática e ajudar pessoas e comunidades que estão na linha de frente dos desastres. Ela é fundadora e presidente da organização Último Recurso, que iniciou a primeira ação de litigância climática da história de Portugal e hoje lidera mais de 170 casos.

Mariana Gomes afirma que o litígio pode tornar palavras e promessas feitas pelos governos em ações vinculantes, ainda mais após a publicação do parecer da Corte Internacional de Justiça, CIJ, que exige ações dos países para limitar o aquecimento global a 1,5°C.

“Creio que no futuro nós vamos ver muitas ações de litigância contra Estados, nomeadamente quem são aqueles que têm um dever a pedir mais ambição, a pedir legislação climática, a pedir que alinhem as suas metas com o Acordo de Paris. Porque, mais uma vez, agora sim, estamos a carregar as nossas costas o peso do Tribunal Internacional de Justiça”.

Direito a um meio ambiente limpo e saudável

Ela ressaltou que os cidadãos podem exigir dos Estados que garantam o direito a um ambiente saudável, limpo e a um clima estável. Para que isso se torne realidade em Portugal, a jovem está apostando na cobrança por Planos Municipais de Ação Climática. Esses documentos definem como será feito no nível local o combate a secas, incêndios florestais, enchentes e outros desastres.

Para Mariana Gomes, as ações de mitigação e adaptação devem reconhecer que os desastres climáticos têm um impacto maior nas mulheres, pois aumentam o risco de violência de gênero, deslocamento forçado e sobrecarga no trabalho de cuidado.

Ela acredita que além de fazer os Estados aumentarem a ambição de redução de gases do efeito estufa, ou encerrarem ações extrativistas, as ações de litígio podem desbloquear financiamento e ajudar a indenizar comunidades que já foram afetadas, ajudando assim a garantir os direitos das mulheres.

*Felipe de Carvalho é enviado especial da ONU News à COP30, no Brasil.

Source of original article: United Nations / Nações Unidas (news.un.org). Photo credit: UN. The content of this article does not necessarily reflect the views or opinion of Global Diaspora News (www.globaldiasporanews.net).

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