À primeira vista, a paisagem vulcânica de Lanzarote, nas Ilhas Canárias, parece tudo menos fértil.
A ilha é seca e árida, coberta por camadas de cinzas e cascalho vulcânico deixadas por erupções massivas há quase três séculos. Mas, entre o solo negro de cinzas, surgem rebentos verdes de videiras, morangos e batatas-doces, resultado da adaptação dos agricultores locais, que aprenderam a gerir as terras através de conhecimentos tradicionais de diferentes gerações.
Resiliência diante da destruição
Entre 1730 e 1736, mais de 30 vulcões entraram em erupção, soterrando um quarto da ilha sob lava e cinzas e destruindo as terras agrícolas mais férteis.
Décadas depois, a seca tornou-se permanente, com a ilha a receber apenas cerca de 16 dias de chuva por ano.
Em vez de desistir, os agricultores locais adaptaram-se. Aprenderam a gerir as suas terras, com base nos conhecimentos tradicionais transmitidos ao longo de gerações. Desenvolveram um sistema agrícola único que continua a alimentar ao local até hoje, em grande parte sem irrigação.
Agricultura em solos vulcânicos nas Ilhas Lanzarote e Chinijo, Geoparque Mundial da Unesco na Espanha
Vinhas e tradição
Em La Geria, região vinícola emblemática, as videiras crescem em cavidades escavadas no solo vulcânico e protegidas por muros semicirculares de pedra. A enóloga Ascensión Robayna cultiva a uva nativa Malvasía Volcánica, conhecida pela sua acidez e aromas tropicais.
“Devemos estar profundamente gratos às gerações passadas”, afirma. “Elas deixaram-nos o legado mais precioso. Quem imaginaria que seria possível cultivar uvas sem irrigação num lugar como este?”
Práticas agrícolas comuns
Uma das práticas mais distintas da ilha é a agricultura com cobertura morta de cinzas, conhecida localmente como enarenado, onde os agricultores cobrem o solo com uma camada de cinzas vulcânicas e pequenas pedras. Essa camada, conhecida como rofe, retém a humidade, protege as raízes e reduz a evaporação.
Na região de Tinajo, os agricultores aplicam uma areia marinha orgânica fina chamada jable, que forma uma camada que retém a humidade no solo abaixo.
Estas práticas tradicionais cobrem mais de 12.000 hectares, permitindo a produção de vinho, frutas, cereais e leguminosas numa das regiões mais secas da Europa.
Antonio Mora trabalhando em sua fazenda usando a técnica enarenado. Sistemas agrícolas em Jable e areias vulcânicas na Ilha de Lanzarote, Espanha
Reconhecimento da FAO
Em maio de 2025, o sistema agrícola de Lanzarote foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, como um Sistema Agrícola de Importância Global, GIAHS.
A designação destaca a conservação da biodiversidade e as práticas sustentáveis da ilha, bem como a sua contribuição para a segurança alimentar e os meios de subsistência.
“Lanzarote é um excelente exemplo de adaptação a condições extremas”, disse Piedad Martín, diretora adjunta do Gabinete de Alterações Climáticas, Biodiversidade e Ambiente da FAO.
A ilha passa a integrar uma rede de mais de 100 sistemas agrícolas únicos em 29 países, todos baseados na preservação do conhecimento tradicional, apoio da biodiversidade e prosperidade das comunidades rurais.
Source of original article: United Nations / Nações Unidas (news.un.org). Photo credit: UN. The content of this article does not necessarily reflect the views or opinion of Global Diaspora News (www.globaldiasporanews.net).
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