Os negociadores reunidos em Belém, no Brasil, na 30ª Conferência da ONU sobre Mudança Climática, COP30, estão correndo contra o tempo para salvar o planeta de um aumento catastrófico da temperatura. Mas esses esforços são, cada vez mais, ameaçados por uma onda de desinformação que pode colocar tudo a perder.

Na abertura do evento, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que a COP30 precisa representar uma “nova derrota para os negacionistas”.

André Corrêa do Lago, presidente da COP30, cumprimenta o presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a abertura da conferência em Belém

Compromisso de combate à desinformação

Nesta quarta-feira, um grupo de 12 países firmou a Declaração de Integridade da Informação sobre Mudanças Climáticas.

O documento defende medidas concretas para enfrentar conteúdos falsos na internet e acabar com ataques deliberados contra jornalistas ambientais, cientistas e pesquisadores que  produzem informações verídicas e baseadas em evidências.

A declaração foi endossada por Brasil, Canadá, Chile, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Espanha, Suécia, Uruguai, Países Baixos e Bélgica.

O anúncio, feito no marco da Iniciativa Global para a Integridade da Informação sobre Mudanças Climáticas, contou com a participação do secretário de Políticas Digitais da Presidência do Brasil, João Brant, que disse que o objetivo é “criar uma onda de difusão da verdade”.

A iniciativa, lançada em junho deste ano, é fruto de uma parceria entre o Governo brasileiro, o Departamento Global de Comunicações da ONU e a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco.

Desinformação pode comprometer negociações

O enviado especial da COP30 para Integridade da Informação, Frederico Assis, disse à ONU News que a “desinformação alimentada por visões obscurantistas, alimenta o extremismo político e coloca vidas em risco”, inclusive em contextos de desastres climáticos. Para ele, existe um risco real de interferência nas negociações climáticas.

“Há um reconhecimento geral de que a desinformação pode afetar e comprometer todas as nossas ações no processo da COP, seja na negociação diplomática, seja na agenda de ação, seja na mobilização ou na cúpula. Todas as nossas ações estarão comprometidas se não trabalharmos corretamente o combate à desinformação, que é fruto de negacionismo”.

Ele destacou a preocupação com algoritmos que potencializam o alcance de conteúdos “conspiratórios e manipuladores”, que muitas vezes usam “táticas sofisticadas para passar mensagens mentirosas”.

Como enviado especial sobre o tema, Assis tem o papel de manter o assunto vivo no debate público, engajando lideranças políticas, religiosas, movimentos sociais, sociedade civil e imprensa.

Desvendando os mecanismos sobre informações falsas

Em entrevista para a ONU News, o diretor de Políticas e Inclusão Digital da Unesco, Guilherme Canela, ressaltou que esta é a primeira vez que o tema da integridade da informação entra na agenda oficial de uma COP.

Ele destacou que a iniciativa global vai contribuir para entender os mecanismos de distribuição da desinformação.

“Nós sabemos muito pouco sobre o que está por detrás disso. Por exemplo, quem é que financia esses posts e porque é que eles espalham mais rapidamente que outros tipos de conteúdo? Como é que isso acontece? Então, se a gente não conseguir saber mais sobre isso, é muito difícil tecer estratégias e iniciativas e atividades para combater esse fenômeno. Então, o coração dessa iniciativa global, é justamente financiar, sobretudo no Sul global, atividades de jornalismo investigativo, de pesquisa sobre o tema da desinformação para entender exatamente o que está acontecendo”.

O Fundo Global para a Integridade da Informação sobre Mudanças Climáticas da Iniciativa já recebeu 447 propostas de quase 100 países. Com um financiamento inicial de US$ 1 milhão do Brasil, o Fundo começou a apoiar uma primeira leva de projetos, com quase dois terços das propostas originárias de países em desenvolvimento.

Canela afirmou que é muito gratificante perceber que o tema está sendo “assumido de maneira muito forte na COP30”.

Narrativas “mudam de roupagem”

Parcerias digitais são cruciais para avançar na direção certa. Sobre este tema, a ONU News ouviu a influenciadora digital Maria Clara Moraes, que integra a iniciativa “Verificado” da ONU. Ela conta que a luta contra a desinformação climática é “completamente possível, mas também muito árdua”.

A co-fundadora da plataforma Marias Verdes, que tem mais de 500 mil seguidores no canal Tik Tok, afirmou que a desinformação é muito bem estruturada e “conta com forças muito poderosas principalmente a indústria do petróleo”.

Ela explicou que as narrativas para desacreditar a ação climática “mudam de roupagem” ao longo do tempo.

“A gente tem vários tipos de desinformação. Uma delas, por exemplo, que também é muito poderosa, é dizer que não dá mais tempo, que não faz mais diferença, ficar tentando tirar a importância desse evento aqui (COP30). Isso também é desinformação. Falar ‘não, mas isso aí não funciona, não está dando certo, é muito lento, é muito complexo e difícil e frustrante’. Mas sim, é importantíssimo. E a gente precisa o tempo inteiro reforçar o multilateralismo, a importância espaços e desses acordos”.

Esperança em relação a novas gerações

Por outro lado, Maria Clara disse que ao produzir conteúdo sobre sustentabilidade e evidências científicas percebe que as pessoas estão cada vez mais conscientes.

Segundo ela, as gerações mais novas são motivo de “muita esperança e otimismo”.

A influenciadora ressalta o papel de cada cidadão na criação de “micro revoluções” por meio de escolhas diárias para ajudar na luta climática, contribuindo assim com transformações sistêmicas de grande impacto.

*Felipe de Carvalho é enviado especial da ONU News à COP30, no Brasil.

Source of original article: United Nations / Nações Unidas (news.un.org). Photo credit: UN. The content of this article does not necessarily reflect the views or opinion of Global Diaspora News (www.globaldiasporanews.net).

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