O representante da Agência das Nações Unidas para Refugiados, Acnur, em Moçambique, Xavier Créach manifestou profunda preocupação com o rápido aumento do deslocamento no norte de Moçambique.
Em apenas uma semana, cerca de 22 mil pessoas foram forçadas a abandonar suas casas por causa de uma nova escalada da violência.
Exaustão e perda de esperança
Depois de anos de incerteza, muitas famílias estão a chegar ao limite, algumas permanecem apesar do perigo, enquanto outras fogem novamente, sem esperança de regresso.
Isadora Zoni, Oficial de Comunicação do Acnur em Moçambique, narra o drama que se vive em alguns distritos de Cabo Delgado.
“Nas últimas semanas, estive no terreno com as equipas em distritos como Chiúre, Mueda….em Chiúre eu conheci uma mulher deslocada pela terceira vez. Ela contou que quando regressou a sua aldeia no ano passado, acreditava que a paz estava a voltar, agora depois de perder tudo outra vez, ela disse que já não sabe se há para onde voltar. Esta sessão de exaustão e perda de esperança é hoje uma realidade em todo norte.”
Em apenas uma semana, cerca de 22 mil pessoas foram forçadas a abandonar suas casas por causa de uma nova escalada da violência
Aumento da violência no norte de Moçambique
Ao longo de 2025, a violência aumentou. Dados do Acnur indicam que até o final de agosto, ocorreram mais de 500 incidentes de segurança afetando civis, incluindo saques a aldeias, raptos, assassinatos, pilhagens e destruição de casas e infraestruturas.
Em comparação, em 2022 considerado um dos períodos mais intensos do conflito, foram relatados 435 incidentes.
A agência afirma que a nova onda de deslocamento é uma das maiores registadas, nos últimos oito anos.
“Hoje, os 17 distritos da província de Cabo Delgado, o epicentro da crise, já foram afetados. E só nas últimas semanas quase 22 mil pessoas foram forcadas a fugir de suas casas, somando se as mais de 100 mil pessoas deslocadas apenas em 2025, mas o número de deslocados não conta a história completa. O que estamos a ver é uma mudança de paradigma. Os civis deixam de ser danos colaterais e passaram a ser alvo direto da violência em ataques, raptos e assassinatos inclusive em vilas e cidades que antes eram consideradas seguras.”
De famílias acolhedoras a deslocados
Desde o início do conflito, em 2017, mais de 1,3 milhão de pessoas foram deslocadas, apanhadas entre a insegurança, a perda e a repetição de deslocamentos.
Muitos dos recentemente deslocados eram anteriormente famílias acolhedoras, que abriram as portas das suas casas a outros, e que agora se encontram também sem abrigo e em necessidade.
As preocupações com a segurança aumentam, os civis continuam a ser alvo de ataques, com relatos de assassinatos, raptos e violência sexual.
As crianças estão entre as mais afetadas, com casos de recrutamento forçado e ataques deliberados por grupos armados não estatais.
Mulheres encontram abrigo contra a violência em uma arena esportiva em Cabo Delgado, no norte de Moçambique. (arquivo)
Agências da ONU e plano de resposta conjunto
“Em Chiúre no âmbito do plano de resposta conjunto, 5 mil famílias já receberam apoio em proteção e saúde mental. As nossas equipas estão no terreno em Mecúfi juntamente com OIM, PMA e Unicef para responder ao novo fluxo de deslocados. Nos próximos dias esperamos apoiar cerca de 1000 famílias com assistência emergencial e serviços de proteção. Prestamos ainda apoio a pessoas com deficiência, distribuímos dispositivos de mobilidade e kits de dignidade para mulheres e raparigas. O nosso foco é garantir que ninguém fique para trás.”
A crise no norte de Moçambique transformou-se numa das situações humanitárias mais complexas da região. Para além da violência, as famílias enfrentam os efeitos combinados de ciclones repetidos, inundações e secas prolongadas.
Os meios de subsistência foram destruídos, os preços dos alimentos estão a subir, e os serviços básicos são escassos. O impacto cumulativo do conflito e dos choques climáticos criou um ciclo de vulnerabilidade cada vez mais difícil de quebrar.
Restrições financeiras e Prioridades da Acnur
Proteger as pessoas, estabelecer a documentação civil, assegurar abrigo de emergência e reforçar a coesão social são algumas das prioridades da agência segundo explica a especialista do Acnur, Isadora Zoni.
“O plano humanitário de 2025 precisa de US$ 352 milhões e apenas US$ 66 milhões foram recebidos. O número de parceiros humanitários também caiu de 78 para 56 organizações, incluindo 26 internacionais, 21 nacionais, 6 entidades governamentais e 3 agências da ONU. Isto significa menos capacidade no terreno, com menos parceiros e menos fundos estamos a “esticar” cada recurso ao limite, mas investir em proteção hoje é evitar novas deslocações amanhã.”
Apesar das restrições financeiras globais, o Acnur e os seus parceiros continuam a apoiar as populações deslocadas e as comunidades de acolhimento em todo o norte de Moçambique.
Balcões de atendimento foram estabelecidos para identificar pessoas com necessidades específicas, oferecer apoio psicossocial e ajudar famílias a recuperar documentos civis perdidos, em coordenação com as autoridades locais.
O Acnur apela à comunidade internacional para renovar o seu apoio a Moçambique. A proteção dos civis, a restauração do acesso a serviços essenciais e o investimento em soluções duradouras são urgentemente necessários para evitar mais sofrimento.
* Ouri Pota é correspondente da ONU News em Maputo
Source of original article: United Nations / Nações Unidas (news.un.org). Photo credit: UN. The content of this article does not necessarily reflect the views or opinion of Global Diaspora News (www.globaldiasporanews.net).
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