Há quatro anos, o ensino secundário para meninas foi proibido pelas autoridades de facto no Afeganistão. Após retomar o controle da capital Cabul, o grupo Talibã impôs várias restrições incluindo impedir as mulheres de trabalhar em organizações não-governamentais.

O impacto desta política vai além da educação. Segundo estimativas do Banco Mundial, a proibição custa ao Afeganistão cerca de US$ 1,4 bilhão por ano, colocando em risco o desenvolvimento da economia e o futuro de toda uma geração de meninas.

Uma proibição antipática

De acordo com a ONU Mulheres, mais de nove em cada 10 pessoas no Afeganistão apoiam a educação secundária das meninas.

Apesar da ajuda humanitária internacional e do recente apoio após o terremoto, as restrições continuam a impedir a reintegração das meninas nas escolas.

No total, até sete milhões de crianças estão fora das salas de aula devido a esta proibição e outras limitações impostas.

Uma menina de onze anos faz montes com estrume de gado e palha à porta de sua casa, na província central de Bamyan, no Afeganistão.

Direito fundamental retirado

Antes da proibição, meninas como Fatima Amiri já enfrentavam ameaças extremistas. Em 2022, quando ela tinha 17 anos, um suicida atacou a sua sala de aula, matando mais de 50 colegas e deixando-a com ferimentos graves.

Hoje, vivendo fora do país, Fatima luta pela educação de meninas afegãs, afirmando que “É um direito fundamental que lhes foi tirado”.

Em testemunho ao Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra, Fatima Amiri revelou mensagens de meninas que “querem o direito à educação” e descreveu a dificuldade da situação, “elas estão numa situação muito difícil… a única coisa que tinham era a educação, mas agora não a têm mais.”

Falta de mudança

Em entrevista à ONU News, ela contou que “há quatro anos que as pessoas no Afeganistão enfrentam estes problemas, e não há ação. Segundo ela, as escolas e universidades continuam fechadas, as mulheres continuam sem poder sair sozinhas. E que é hora de acabar com discursos e passar à ação.

Fatima apela aos Estados-Membros do Conselho de Direitos Humanos que criem oportunidades de aprendizagem, como bolsas de estudo ou ensino online, para permitir que meninas continuem a estudar e a preparar o futuro. Esta iniciativa surge como resposta à necessidade de alternativas enquanto se luta pelo retorno de direitos básicos e acesso à educação.

A afegã lembra que as meninas não desistem de estudar. Muitas continuam a tentar aprender em casa, com os seus livros, e a interagir com outras pessoas com conhecimento para aprender com elas.

Acompanhe a entrevista, editada e resumida para maior clareza:

Fatima Amiri: Sou apenas um exemplo das muitas meninas e mulheres no Afeganistão a quem foi negada justiça. Sou alguém que sentiu todo o tipo de dor que as raparigas do meu país experimentam… A única coisa que posso fazer é ser a voz delas, falar com o mundo e transmitir a mensagem delas a outras pessoas para que possam ajudá-las.

ONU News: O impacto prejudicial sobre os direitos das meninas e mulheres associado ao regresso dos talibãs tem sido amplamente condenado. Mas você viveu isso; pode descrever o que isso significa para as suas amigas que ainda estão no Afeganistão?

Fatima Amiri: Há quatro anos que as pessoas no Afeganistão enfrentam estes problemas, que as escolas estão fechadas, as universidades estão fechadas e a situação das mulheres. O problema é que estamos apenas a falar, mas não há ação. Já se passaram quatro anos! Não há mudanças no Afeganistão todos os dias; as escolas continuam fechadas, as universidades continuam fechadas, as mulheres continuam sem poder sair sozinhas. Portanto, falar não é suficiente; falamos muito, é hora de fazer algo, precisamos de ações.

ONU News: E é por isso que veio ao Conselho de Direitos Humanos da ONU aqui em Genebra, onde os países ouviram a sua poderosa história. Disse que estava a falar por todos os outros; não lhes contou que tinha perdido um olho e ficado com cicatrizes naquele ataque terrorista à sua escola…

Fatima Amiri: É verdade que perdi o meu olho, a minha orelha. Mas há muitas outras raparigas que também perderam a visão; quando não se pode estudar, quando não se tem os direitos básicos, isso significa que se está cego. Não se consegue ver nada quando se passa o dia todo em casa, sem escola, sem educação.

Estou em contacto com muitas raparigas no Afeganistão… Algumas delas dizem que estávamos a estudar e que a nossa esperança era criar o nosso futuro e torná-lo melhor, e tornar o nosso país um lugar melhor para nós. Mas agora não temos os nossos direitos básicos. Elas estão deprimidas, estão perdidas… Estão a pedir ajuda. Estou a contar a minha história para que as pessoas possam compreender.

ONU News: Quando ocorreu o ataque terrorista, estava a preparar-se para um exame de admissão à universidade para estudar ciência da computação. Apesar dos ferimentos graves, fez o exame…

Fatima Amiri: Fiz o exame depois de ter sido ferida no ataque, mas tinha perdido o olho e a orelha e foi muito difícil passar nesse exame naquela situação. Eu estava no hospital, mas passei muito bem no exame e consegui entrar na universidade; mas eles fecharam-na e eu não pude continuar os meus estudos. Por isso, continuo a lutar pelo meu sonho, pelo meu direito à educação.

ONU News: O que quer que os 47 Estados-Membros do Conselho de Direitos Humanos façam? Como podem ajudar?

Fatima Amiri: Eles devem criar oportunidades para elas. Se não podem abrir a minha escola, pelo menos deem-me uma oportunidade, deem-me uma bolsa de estudos! Estes países que estão aqui podem criar oportunidades de aprendizagem online para que elas possam continuar a sua educação ou conseguir trabalho. Precisamos de opções. Essa é a mensagem que a maioria das meninas no Afeganistão queria que eu transmitisse.

ONU News: Você falou sobre como as meninas continuam a aprender “em segredo, na escuridão, online, através de sussurros, através de livros que são como tesouros preciosos”. O que mais você pode nos contar?

Fatima Amiri: A situação está completamente difícil agora, como todos sabemos, mas as meninas no Afeganistão são imparáveis. Elas estão a se esforçar cada vez mais a cada dia. Estou em contacto com muitas delas, estou a ensinar inglês, elas estão muito motivadas! É verdade que elas não têm o direito de estudar e que a conexão com a internet não é boa, mas elas continuam a tentar estudar, a aprender algo novo.

Nem todas têm acesso a cursos online ou talvez a universidades ou escolas online; há muito poucas oportunidades desse tipo. Mas elas estão a tentar continuar a sua educação, estão a estudar em casa com os livros que tinham antes, estão a tentar entrar em contacto com outras pessoas com conhecimento, para aprender com elas. Então, elas estão apenas a tentar, são imparáveis.

Source of original article: United Nations / Nações Unidas (news.un.org). Photo credit: UN. The content of this article does not necessarily reflect the views or opinion of Global Diaspora News (www.globaldiasporanews.net).

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