Na beira do rio Guamá, na ilha do Combu, uma densa floresta compartilha, há séculos, com as populações locais deliciosos frutos amazônicos como cupuaçu, taperebá, pupunha, araçá e cacau.

Para que essa rica flora prossiga por gerações, sem as ameaças da mudança climática, os negociadores reunidos na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, COP30, precisam garantir a proteção das florestas.

Cadeias de produção no coração das comunidades

Combu está a 30 minutos de barco de Belém, sede da Conferência da ONU, este ano. Ali, a Associação Filha do Combu, criada por Izete Costa, mais conhecida como da Dona Nena, é um exemplo de soluções práticas, criadas por comunidades, para salvar o planeta.

Neste domingo, foi a vez da presidente da Assembleia Geral da ONU encontrar a Dona Nena pela segunda vez. A primeira foi quando exercia o cargo de ministra das Relações Exteriores da Alemanha.

Ao chegar no local ela contou à ONU News que está feliz em ver que a iniciativa segue forte e crescendo, gerando “cadeias de produção localizadas no coração das comunidades e garantindo que os benefícios possam permanecer com os povos indígenas e com a população local”.

ONU News/Felipe de Carvalho

A presidente da Assembleia Geral, Annalena Baerbock, provando cacau da Ilha de Combu, perto de Belém.

“A gente trabalha com a floresta em pé”

Dona Nena explicou que iniciou o projeto buscando transformar os saberes tradicionais em fonte de renda, resgatando a cultura da própria família e buscando tudo que a floresta tinha a oferecer.

Ela se concentrou na produção de chocolate com o cacau amazônico, vendendo em pequenas feiras. Depois fez cursos profissionalizantes e expandiu o negócio, adicionando ainda um componente de turismo, para que as pessoas pudessem visitar a fábrica de chocolates no meio da floresta. Dos 20 funcionários que atuam no local, 16 são mulheres.

A produção do cacau e outros frutos é feita por meio de um sistema agroecológico, onde diversas espécies nativas atuam juntas para otimizar os resultados. Por exemplo, o local contém uma série de bananeiras, que estão lá para atrair a abelha polinizadora do Cacau.

“Eu costumo enriquecer a floresta com o que está dando certo, porque aqui a gente não derruba a floresta para fazer plantio. A gente trabalha com a floresta em pé e onde tem uma queda natural é que a gente vai buscando, vai plantando”.

Conectando soluções

A fábrica onde são produzidos os chocolates, consumidos em todo o Brasil, funciona durante oito horas por dia com energia solar. Mas dona Nena quer duplicar essa capacidade, para garantir mais estabilidade e evitar danos nas máquinas por quedas de energia, que às vezes ocorrem quando cai uma árvore, um problema que demora dias para ser resolvido.

Para Annalena Baerbock, esse projeto mostra que existem soluções que combinam crescimento econômico, desenvolvimento sustentável e a luta contra a crise climática. A líder da Assembleia Geral disse que é preciso conectar essas soluções para cumprir a promessa de manter o aquecimento global abaixo de 2°C, preferencialmente em 1,5°C.

ONU News / Felipe de Carvalho

Paisagem na ilha do Combu, Belém, Brazil

Os frutos estão ficando secos, deformados e escassos

Mesmo assim, Combu não escapa as consequências da crise climática. Dona Nena conta que, nos últimos tempos, tem colhido menos cacau. Frutos e árvores estão ficando mais secos e deformados. Além disso, os temores com a falta de água potável crescem a cada dia que passa sem chover. Apesar de ser a estação chuvosa na região, faz mais de 15 dias que não cai uma gota de água na ilha do Combu.

A presidente da Assembleia Geral ouviu com preocupação a empreendedora relatar a falta de chuvas e os impactos na produção causados pelas mudanças climáticas.

Baerbock disse que a destruição das florestas é a destruição da “garantia de sobrevivência” da humanidade.

Para ela, a COP30 precisa ser “o momento de mostrar ao mundo, especialmente em tempos geopolíticos desafiadores, que a grande maioria dos países, assim como pessoas, empresas e agentes financeiros, estão unindo forças para combater a crise climática e, com isso, alcançar o crescimento sustentável para todos”.

Lições da floresta

Após uma degustação de frutos amazônicos e uma variedade de receitas com chocolates preparados no local, dona Nena levou Annalena para uma trilha na mata, onde dois anos atrás ambas se reuniram com um grupo de mulheres produtoras.

Elas conversaram sobre a ênfase que o projeto dá ao empoderamento de mulheres extrativistas, que também conseguem vender seus produtos por meio da associação Filha do Combu. Dona Nena destacou que, na fábrica, as mulheres colocam uma energia de carinho e cuidado que contribui para o sucesso do chocolate.

A floresta que serviu de cenário para este encontro também trouxe lições importantes. As duas mulheres observaram juntas uma árvore de taperebá que estava definhando por ação de um cipó parasita.

Dona Nena disse que depois que a árvore morrer o cipó também vai morrer, porque vai perder sua fonte de nutrientes. Annalena comentou que isso era uma lição de diplomacia, que pode ser inclusive associada à emissão de gases que destroem o planeta.

Mas elas também se reuniram diante de uma Sumaúma de mais de 280 anos de idade. Essa árvore imensa e imponente está de pé desde muito antes de começar qualquer tipo de negociação climática e vai continuar ali por muitos anos, caso as negociações da COP30 sejam bem-sucedidas.

*Felipe de Carvalho é enviado especial da ONU News à COP30, no Brasil.

Source of original article: United Nations / Nações Unidas (news.un.org). Photo credit: UN. The content of this article does not necessarily reflect the views or opinion of Global Diaspora News (www.globaldiasporanews.net).

To submit your press release: (https://www.globaldiasporanews.com/pr).

To advertise on Global Diaspora News: (www.globaldiasporanews.com/ads).

Sign up to Global Diaspora News newsletter (https://www.globaldiasporanews.com/newsletter/) to start receiving updates and opportunities directly in your email inbox for free.