A crise política e humanitária no Sudão do Sul atingiu níveis alarmantes, com confrontos armados em larga escala, deslocamentos em massa e violações graves de direitos humanos. O alerta foi feito, esta segunda-feira, a Comissão das Nações Unidas sobre os Direitos Humanos no Sudão do Sul.

Após uma década de esforços da União Africana, UA, e de parceiros regionais para sustentar o processo de paz, o país enfrenta um colapso político que ameaça mergulhá-lo novamente numa guerra total.

Paralisia por corrupção e impunidade

Durante a sua missão à sede da União Africana, em Addis Abeba, a Comissão denunciou o “vácuo de justiça e responsabilização” que alimenta a estagnação política, a corrupção e o conflito. O relatório mais recente da Comissão, “Saques a uma Nação: Como a corrupção desenfreada desencadeou uma crise de direitos humanos no Sudão do Sul”, descreve como a apropriação sistemática de recursos públicos e o enriquecimento ilícito das elites governamentais continuam a privar milhões de sul-sudaneses de seus direitos básicos.

O comissário Barney Afako, que liderou a missão, afirmou que “o aumento dos combates, a crise política e a corrupção desenfreada são sintomas claros de um fracasso de liderança e de consenso”. Para Afako, sem uma intervenção imediata e coordenada da região, o Sudão do Sul corre o risco de regressar a uma guerra total, com consequências humanas inimagináveis.

Meninas lavam-se em uma torneira em um campo para deslocados em Bentiu, Sudão do Sul

Justiça adiada é justiça negada

Mais de 10 anos após o início do conflito, as vítimas sul-sudanesas ainda aguardam medidas credíveis de justiça e reparação. A Comissão reiterou a urgência de estabelecer os mecanismos de justiça de transição previstos no Acordo Revitalizado de 2018, especialmente o Tribunal Híbrido para o Sudão do Sul, cujo processo continua bloqueado apesar das repetidas resoluções do Conselho de Paz e Segurança da UA.

Yasmin Sooka, presidente da Comissão, declarou que “mais do que nunca, a justiça é essencial”. Segundo ela, as promessas feitas às vítimas permanecem incumpridas, sendo fundamental o Tribunal Híbrido passar do papel à ação concreta. Para a presidente da Comissão, a “União Africana tem o dever moral e político de garantir um processo de justiça que fortaleça o Estado de direito e a coesão social no país”.

Deslocamento em massa e crise regional

Os combates renovados em 2025 provocaram a fuga de cerca de 300 mil pessoas do Sudão do Sul: para o Sudão 148 mil; para a Etiópia 50 mil; para o Uganda 50 mil; para a República Democrática do Congo 30 mil e para o Quénia 25 mil.

No total, mais de 2,5 milhões de refugiados sul-sudaneses encontram-se atualmente acolhidos na região. Internamente, 2 milhões de pessoas permanecem deslocadas, enquanto o país ainda abriga 560 mil refugiados que fogem da guerra no Sudão. As mulheres e crianças continuam a ser as mais afetadas, enfrentando riscos de violência, fome e exploração.

Proteção das crianças

A crise no Sudão vizinho também evidencia a urgência de proteger civis e garantir responsabilização. Na manhã de 11 de outubro, pelo menos 17 crianças, incluindo um recém-nascido de sete dias, foram mortas num ataque ao Centro de Deslocados de Dar al-Arqam, em Al Fasher, Darfur do Norte, segundo o Unicef. Outras 21 crianças ficaram feridas.

A diretora executiva do Unicef, Catherine Russell, classificou o ataque como “um ultraje” e “uma violação grave dos direitos das crianças”.

A cidade de Al Fasher, sitiada pelas Forças de Apoio Rápido, RSF na sigla em inglês, há mais de 500 dias, enfrenta escassez extrema de alimentos, água e assistência médica.

O Unicef continua a exigir cessação imediata das hostilidades, respeito ao direito internacional humanitário, acesso humanitário seguro e responsabilização dos autores de ataques contra civis.

Uma explosão de mina terrestre perto da cidade de Luri, a sudoeste da capital do Sudão do Sul, Juba (arquivo)

ONU e União Africana devem agir agora

Com membros do Conselho de Paz e Segurança da UA e do Conselho de Segurança da ONU reunidos esta semana em Addis Abeba, a Comissão apelou a ações decisivas e coordenadas para travar a escalada da crise sul-sudanesa.

O apelo central é claro: colocar a justiça e a responsabilização no centro das deliberações, incluindo o estabelecimento imediato do Tribunal Híbrido.

Sooka afirmou que acrise que se desenrola no Sudão do Sul é resultado de “escolhas deliberadas feitas pelos seus líderes, que colocaram os próprios interesses acima dos do seu povo”.

A presidente da Comissão declarou por fim que a comunidade internacional deve agir agora para garantir que o Sudão do Sul não mergulhe novamente no caos, mas siga um caminho de paz, dignidade e justiça.

Source of original article: United Nations / Nações Unidas (news.un.org). Photo credit: UN. The content of this article does not necessarily reflect the views or opinion of Global Diaspora News (www.globaldiasporanews.net).

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