Guterres diz que debate geral na ONU cria oportunidade para líderes globais

As Nações Unidas acolhem a Semana de Alto Nível da 80ª Assembleia Geral a partir de segunda-feira. Mais de 150 líderes, incluindo chefes de Estado e de governo, devem chegar a Nova Iorque para discursar na Assembleia e participar de eventos temáticos.   

Em entrevista coletiva, o secretário-geral ressaltou que o encontro é uma oportunidade que não deve ser perdida com “todas as possibilidades de diálogo e mediação” e momentos para encontrar soluções. 

Resolver problemas  

Para António Guterres, o período a que alguns chamam de Copa do Mundo da diplomacia não se trata de marcar pontos, mas sim de resolver problemas. Entre as questões em jogo, ele citou o aumento de divisões geopolíticas, de conflitos e da impunidade. 

O líder da ONU sublinhou o avanço do superaquecimento do planeta, das novas tecnologias sem barreiras e das desigualdades. Outra questão é o dissipar da cooperação internacional que segundo ele está “sob pressões nunca vistas”. 

A agenda de Guterres prevê mais de 150 reuniões bilaterais com  líderes participantes. Neles, ele espera “fazer pressão” aos seus interlocutores para dialogarem diretamente com vista a superar divisões, reduzir riscos e encontrar soluções. 

Necessidade de paz em Gaza  

O secretário-geral ressaltou que os chefes de Estado e de governo devem levar a sério as questões pendentes “porque as pessoas estão exigindo respostas e ações”. 

Guterres pediu respostas à gravidade dos desafios mundiais e que atendam às expectativas de todos. Para a que espera ser uma “semana de soluções”, ele citou a necessidade de paz em Gaza, na Ucrânia, no Sudão e noutros lugares, bem como um rumo para uma paz justa e duradoura no Oriente Médio, baseada em uma solução de dois Estados. 

Crise em Gaza 

Sobre o conflito em Gaza, o chefe da ONU disse que tomou nota de alegações de investigadores independentes ao Conselho de Direitos Humanos, sobre ações de Israel que poderiam configurar, o que os investigadores classificaram de “genocídio”. O relatório produzido no contexto das operações militares israelenses na Cidade de Gaza é rejeitado pelo governo de Tel Aviv, como um documento “com mentiras do Hamas.” 

O secretário-geral disse que não está nas suas atribuições fazer a determinação legal do genocídio, e que isso pertence às entidades judiciais adequadas, principalmente à Corte Internacional de Justiça. Ele lembrou que, no momento, a Corte Internacional de Justiça está lidando com um caso Aplicação da Convenção sobre a Prevenção e a Punição do Crime de Genocídio na Faixa de Gaza.  

No entanto, o secretário-geral disse que o fato de que não tem a competência para fazer a determinação legal do genocídio, não significa que não considere horrível o que acontece em Gaza, tanto após ataques do Hamas, em outubro de há dois anos, como o que está ocorrendo agora.

Conferência Internacional 

Para a UNGA80, Guterres disse que a longa lista de temas se deve à grande necessidade de se resolverem os assuntos.  

Uma das questões lançadas foi sobre a reunião na sequência da Conferência Internacional sobre a Solução Pacífica da questão da Palestina e a implementação da solução de dois Estados de julho. Guterres falou das expectativas sobre o evento coordenado pela França e pela Arábia Saudita na ONU. 

“Creio que esta reunião é da maior importância, porque no momento em que se fala de possíveis anexações, nomeadamente da Cisjordânia, no momento em que assistimos à destruição sistemática em Gaza, é essencial reafirmar o direito do povo palestiniano à autodeterminação. É essencial reafirmar o seu direito a ter um Estado e que a solução dos dois Estados seja a base da paz e da segurança para os dois povos. E nesse sentido, esta reunião é uma reunião de extrema importância.” 

O clima está entre os temas centrais a serem discutidos na semana de alto nível. Guterres lembrou que os países devem avançar com novos e ambiciosos planos nacionais de ação climática que mantêm o limite de 1,5 grau. 

Diálogo Global sobre Governança 

As discussões serão também dominadas por temas como a inovação responsável, com o lançamento do Diálogo Global sobre Governança da IA ​​para colocar a humanidade no centro da mudança tecnológica com todos os países presentes. 

Em questões sobre mulheres e meninas, a expectativa é que sejam abordados planos concretos para a igualdade numa sessão dedicada que coincide com o 30º aniversário da Conferência de Pequim. 

Por fim, há expectativas sobre a primeira Cúpula sobre o Financiamento do Desenvolvimento e a outra sobre o reforço da ONU, na qual se espera abordar a Iniciativa ONU80 para ajustar as Nações Unidas a um mundo modernizado. 

 
*Eleutério Guevane é redator-sênior da ONU News Português.