Debates na COP 30 enquadram financiamento climático como questão de sobrevivência

Felipe de Carvalho, de Belém*

Muitas ações urgentes precisam ser tomadas para garantir um planeta habitável e proteger milhões de vidas, mas todas elas dependem de financiamento.

No sábado, os debates na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, COP30, giraram em torno daquilo que é considerado o principal motor da transição climática: a mobilização financeira.

Questão de sobrevivência

A conferência em Belém, no Brasil, acolheu o Terceiro Diálogo Ministerial de Alto Nível sobre Financiamento Climático, onde muitos representantes de países altamente impactados pela crise climática descreveram o acesso a recursos financeiros como “uma questão de sobrevivência”.

Na abertura do evento, a presidente da Assembleia Geral, Annalena Baerbock disse que a COP30 deve representar o início da implementação de um financiamento anual de até US$ 1,3 trilhão, com desembolsos “que cheguem aos mais necessitados, de forma rápida, transparente e justa”.

A líder do maior órgão deliberativo da ONU afirmou que a ação climática e a justiça social são “inseparáveis”, argumentando que “a insegurança climática gera fome e pobreza, que por sua vez impulsionam migração e conflitos, e estes aprofundam a pobreza e desencorajam o investimento”.

Annalena Baerbock declarou que cumprir as metas climáticas significa quebrar esse círculo vicioso.

Energias renováveis 

Ela destacou os 10 anos do acordo de Paris, lembrando que muitos presentes naquela negociação chegaram às lágrimas com o resultado histórico que gerou o primeiro texto juridicamente vinculante para combater as mudanças climáticas, envolvendo mais de 190 países.

Baerbock, que foi deputada pelo partido Verde em seu país, Alemanha, ressaltou que em 2015, quando o Acordo de Paris foi firmado, muitos consideravam as energias renováveis “irrealistas”, mas hoje são a fonte de energia que mais cresce no mundo.

No ano passado, o investimento global em energia limpa atingiu US$ 2 trilhões, cerca de US$ 800 bilhões a mais do que em combustíveis fósseis. Além disso, a energia solar se tornou a forma de eletricidade mais barata da história.

Potencial inexplorado na África

Segundo Baerbock, “um vasto potencial permanece inexplorado porque o capital ainda não está fluindo para onde é mais necessário”, especialmente na África.

Mais de 600 milhões de africanos ainda vivem sem eletricidade, embora o potencial de energia renovável do continente seja 50 vezes maior do que a demanda mundial de eletricidade projetada para 2040.

A presidente da Assembleia Geral disse que os países desenvolvidos têm que cumprir as promessas de apoio tecnológico e financeiro e reformar as instituições financeiras.

“A força vital da ação climática”

Já o  secretário-executivo da ONU para Mudanças Climáticas, Simon Stiell, também participou do encontro de alto nível e descreveu as finanças como a “força vital” da ação climática, capaz de transformar “planos em progresso”, “ambição em implementação”.

O chefe do Clima das Nações Unidas lembrou que os países mais vulneráveis estão tendo dificuldades para acessar financiamentos que já foram prometidos.

Financiamento e ambição 

Segundo ele, apesar de bilhões de dólares investidos em energia limpa, resiliência e transições justas ao redor do mundo, o volume “ainda não é suficiente nem previsível o bastante”, nem compartilhado de forma ampla e justa.

Stiell fez um apelo para que a COP30 sirva para provar, mais uma vez, que a cooperação climática está funcionando e que os investimentos nessa área podem formar a história do crescimento econômico no século 21.

Ele ressaltou que “quando o financiamento flui, a ambição cresce” e com isso a implementação funciona, criando empregos, reduzindo o custo de vida, melhorando a saúde, protegendo as comunidades e garantindo um planeta próspero e mais resiliente para todos.

*Felipe de Carvalho é o enviado especial da ONU News à COP30, no Brasil.