O Haiti vive uma “forte erosão da autoridade estatal e do Estado de Direito”, com a violência brutal de gangues afetando todos os aspectos da vida pública e privada.

A declaração é do secretário-geral-assistente da ONU para Assuntos Políticos, Miroslav Jenca, aos membros do Conselho de Segurança em reunião sobre a situação no país caribenho, nesta quarta-feira.

Avanço das gangues para o norte do país

Jenca contou que após paralisar a capital haitiana, Porto Príncipe, e interromper todos os voos internacionais, as gangues só fortaleceram sua presença, afetando agora todas as áreas da região metropolitana da cidade. 

Segundo o secretário-geral-assistente, sem uma ação reforçada da comunidade internacional, o “colapso total” da presença estatal na capital pode vir a ocorrer de fato.

Embora Porto Príncipe continue sendo o epicentro da violência, grandes ataques em Mirebalais, demonstram a crescente capacidade e intenção dos bandidos em  expandir seu alcance para o norte.

O município de La Chapelle, no departamento de Artibonite, foi o último a ser tomado, após um ataque em 22 de junho, que deslocou pelo menos 8.890 moradores.

O número de locais de deslocamento espontâneo continua a se multiplicar em todo o Haiti à medida que mais pessoas fogem da violência e da insegurança

Uso de drones

A diretora executiva do Escritório da ONU sobre Drogas e Crime, Unodc, apresentou as conclusões do oitavo relatório da agência ao Conselho, abrangendo os acontecimentos entre março e junho deste ano.

Ghada Wally destacou o aumento da demanda por armas de nível militar, alimentando mercados ilícitos no país caribenho.

Ela também alertou para o uso crescente da tecnologia de drones por forças policiais e grupos criminosos. Segundo a chefe do Unodc, as gangues têm usado drones para vigilância há mais de um ano, principalmente para monitorar os movimentos da polícia e proteger suas zonas de controle.

Fuga de 529 presos de alta periculosidade

Essa tática foi empregada durante o ataque de março de 2025 à Penitenciária de Mirebalais, que libertou 529 detentos de alta periculosidade, refletindo um nível crescente de coordenação tática.

Em resposta, a “Força-Tarefa” de Segurança Haitiana, estabelecida pelo governo no início de 2025, começou a implantar drones de vigilância e explosivos. O objetivo é coletar informações em tempo real, realizar ataques direcionados e recuperar o controle de territórios ocupados por gangues.

A diretora do Unodc destacou a preocupação com o uso deste tipo de armamento em áreas densamente povoadas.

“Sem apoio internacional, perspectivas são sombrias”

Em 26 de junho, a Missão Multinacional de Apoio à Segurança, MSS, liderada pelo Quênia, completou um ano de presença no Haiti.

Jenca relatou que apesar dos esforços, o MSS e a Polícia Nacional Haitiana não conseguiram avançar no restabelecimento da autoridade estatal e, sem apoio adicional de segurança da comunidade internacional, “as perspectivas são sombrias”.

Ele ressaltou que contribuições voluntárias adicionais para o Fundo Fiduciário da MSS são necessárias para sustentar a missão e garantir seus objetivos. O alto funcionário ressaltou a recomendação do secretário-geral, sobre a criação de um escritório da ONU para fornecer apoio logístico e operacional.

Pessoas que fugiram de suas casas no Haiti descansam em centro de acolhimento

O sofrimento da população

Só neste ano, o Escritório Integrado das Nações Unidas no Haiti, Binuh, registrou 4.026 vítimas de homicídio doloso, incluindo 376 mulheres, 21 meninas e 68 meninos.

Isso representa um aumento de 24% em relação ao mesmo período do ano passado. O número de pessoas deslocadas internamente pela violência chegou a 1,3 milhão, outro trágico recorde.

Os últimos três meses marcaram um aumento na violência sexual cometida por gangues, uma tática usada deliberadamente para incutir medo e afirmar o controle sobre as comunidades. De março a abril o Binuh documentou 364 casos envolvendo 378 sobreviventes.

Transição política

A ONU está apoiando a implementação de um acordo firmado em abril de 2024, que prevê um referendo constitucional e eleições até fevereiro de 2026.

Mas a grave situação de segurança pode arruinar a transição política, que incluiria a eleição de um presidente e a formação de um novo parlamento.

O Binuh está promovendo uma participação mais ampla e inclusiva na transição política, envolvendo especialmente de mulheres e jovens.

*Felipe de Carvalho é redator da ONU News.

Source of original article: United Nations / Nações Unidas (news.un.org). Photo credit: UN. The content of this article does not necessarily reflect the views or opinion of Global Diaspora News (www.globaldiasporanews.net).

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