Em 5 de maio, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco, irá comemorar o Dia Mundial da Língua Portuguesa. A data foi aprovada na 40ª Sessão da Conferência Geral da agência da ONU, em 2019. A primeira celebração, no entanto, em 2020, teve que ocorrer de forma virtual por causa da pandemia da Covid19, naquele ano.

Para este quinto aniversário do Dia Mundial, em 2025, o Podcast ONU News prepara uma série de entrevistas com representantes de países lusófonos e de estudantes do idioma como língua estrangeira ou segunda língua.

Guimarães Rosa e Camões em parceria

O primeiro entrevistado é o diretor do Instituto Guimarães Rosa, o embaixador Marco Antonio Nakata.

O IGR foi criado em 2022, pelo Brasil, exatamente 30 anos após a fundação do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua que é gerido por Portugal. Ao todo, o instituto brasileiro tem mais de 40 leitorados e 24 unidades em quatro continentes.

De Brasília, o diretor do Guimarães Rosa falou dos esforços para promover a língua comum com a formação de um grupo de trabalho das diplomacias de ambas as nações.

“Por exemplo, para citar um projeto concreto que estamos fazendo junto com o Instituto Camões, nós devemos fazer uma colaboração com eles em espaços que um ou outro não tenha uma atuação muito forte. Por exemplo, na Ásia, normalmente, o Instituto Camões tem espaços físicos mais importantes do que o Instituto Guimarães Rosa.  As unidades nossas não mais discretas no continente asiático. No continente sul-americano, por outro lado, o Instituto Guimarães Rosa é mais presente e tem inclusive unidades muito importantes. Nós temos auditório para fazer apresentações musicais etc e o Instituto Camões não tem.”

Jovens estudantes da Universidade Nacional de Timor-Leste

União Europeia e União Africana

Idioma oficial de 10 países e territórios com uma população de mais de 280 milhões de pessoas, o português é considerado a quinta ou sexta língua mais falada do mundo. Está presente em várias organizações internacionais e regionais como língua oficial incluindo a União Africana, a União Europeia, o Mercosul e outros.

O diretor do Instituto Guimarães Rosa contou que o objetivo do Brasil é unir forças com Portugal para aumentar a presença do português na ONU no papel de língua oficial. Marco Antonio Nakata:

“O primeiro passo que vamos tomar com relação a isso é a criação de um grupo de trabalho que vai envolver, evidentemente, diversos segmentos das Chancelarias Portuguesa e Brasileira. Uma das áreas é a área cultural então tanto o Instituto Camões como o Guimarães Rosa estarão envolvidos. Mas também vamos envolver a área geográfica de Portugal e Brasil. Nós vamos envolver a Divisão de Nações Unidas de ambas as Chancelarias. E vamos envolver também as delegações permanentes do Brasil e de Portugal nas Nações Unidas.”

Com as Grandes Navegações, no século 15, a língua de Portugal passou pelos quatro cantos do mundo. É considerada a primeira a ser globalizada.

Hoje, ela é também a primeira ou segunda língua das diásporas lusófonas espalhadas por países como África do Sul, Estados Unidos, França, Japão e Luxemburgo.

Ao comentar a chegada do quinto aniversário do Dia Mundial pela Unesco, no próximo mês, o diretor do Instituto Guimarães Rosa diz que vale a pena aprender o idioma.

“Com o conhecimento do português, você vai ter um conhecimento muito amplo da cultura brasileira, da cultura portuguesa e de todos os países de língua portuguesa na África. Então, eu acho que a pessoa só teria a ganhar ao aprender o português.”

O Dia da Língua Portuguesa, em 5 de maio, foi criado pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa em 2009 e passou a Dia Mundial após a resolução da Unesco, 10 anos depois, em 2019.

Leia na íntegra a entrevista do diretor do Instituto Guimarães Rosa que abre uma série de conversas sobre o idioma até o Dia Mundial da Língua Portuguesa, neste 5 de maio.

ONU News:  O que é o Instituto Guimarães Rosa, quantos são pelo mundo, quantos alunos e qual é a importância para a promoção da língua?

Marco Antonio Nakata: O Instituto Guimarães Rosa é baseado em Brasília, dentro do Ministério das Relações Exteriores. Ele é o sucedâneo do Departamento Cultural do Itamaraty e tem uma história de mais de 70 anos de diplomacia cultural. Ele tem hoje cerca de 24 unidades distribuídas pelo mundo inteiro e nós estamos ampliando essa rede a partir deste ano e pretendemos alcançar cidades e países através do mundo inteiro. A função do Instituo Guimarães Rosa é promover a língua portuguesa, mas também tem outras três vertentes que são: a cooperação educacional, internacional evidentemente, também tem a divulgação da cultura brasileira em todas as suas vertentes, em vários segmentos, e finalmente – e não menos importante -, os temas multilaterais culturais, que envolvem, por exemplo, projetos junto à Unesco, junto ao G20, ao Mercosul cultural, Brics cultural e assim sucessivamente.

ON: O senhor esteve recentemente na Europa fechando uma parceria com o Instituto Cervantes, da Espanha, mas também em conversações com o Instituto Camões. Esses são institutos que já têm década de experiência. O Cervantes foi criado em 1991 e o Camões como Instituto da Cooperação e da Língua, um ano depois. Como essa parceria vai fortalecer o papel do Guimarães Rosa?

MAN: Nós temos tentado criar e assinar memorandos de entendimento com várias instituições. Entre elas com o Camões, que assinamos no ano passado, e este ano com o Instituto Cervantes. A ideia é que a gente tenha ações concretas, projetos concretos de colaboração de forma a ter uma sinergia na atuação da diplomacia cultura entre o Instituto Guimarães Rosa e esses institutos que você citou que são experientes e com longa tradição. Por exemplo, para citar um projeto concreto que estamos fazendo junto com o Instituto Camões, nós devemos fazer uma colaboração com eles em espaços que um ou outro não tenha uma atuação muito forte. Por exemplo, na Ásia, normalmente, o Instituto Camões tem espaços físicos mais importantes do que o Instituto Guimarães Rosa.  As unidades nossas não mais discretas no continente asiático. No continente sul-americano, por outro lado, o Instituto Guimarães Rosa é mais presente e tem inclusive unidades muito importantes. Nós temos auditório para fazer apresentações musicais etc e o Instituto Camões não tem.

Então nossa ideia é de que haja uma colaboração entre as instituições de forma que eles possam se beneficiar de espaços físicos que nós temos e nós também possamos nos beneficiar de espaços físicos que não temos. Evidentemente, cria uma aproximação maior entre os dois países e uma coordenação melhor no ensino da língua portuguesa.

ON: Embaixador, essa é uma cooperação que o próprio Camões já tem com outros institutos como a Aliança Francesa, na África do Sul. E todos saem ganhando porque há custos envolvidos com a operação de uma sede e dois institutos podem cooperar. No caso específico do Guimarães Rosa com o Camões. Haverá aulas com professores portugueses, professores brasileiros. Eles vão intercalar? Como vai se dar isso na prática?

MAN: Não. Na prática, nesse primeiro momento a ideia não é que haja um aproveitamento do ensino da língua portuguesa.  É mais uma questão dos eventos culturais acadêmicos, seminários, conferências etc. Nós não partimos ainda para a questão do compartilhamento do espaço físico para o ensino do português. Para isso, tanto o Camões quanto o IGR temos uma rede ampla de leitores em diversas universidades do mundo inteiro. E em algumas delas, nós temos tanto a vertente portuguesa quanto a vertente brasileira. Por exemplo, no caso do Brasil, do IGR, nós temos pouco mais de 40 leitores espalhados em diversas universidades do mundo em todos os continentes. São pessoas do mais alto nível com pós-graduação, com larga experiência do ensino do português, da cultura brasileira. E eles ajudam muito a difusão da cultura brasileira, da história do Brasil etc porque eles ensinam em suas aulas não só a língua portuguesa, mas todo o contexto cultural, histórico e político do Brasil.

© Acnur/Omotola Akindipe

Educação no assentamento de refugiados Lóvua, em Angola

ON: Portugal e Brasil acabam de fazer a 14ª. Cimeira Luso-Brasileira que ocorreu em Brasília. E nessa Cimeira, foi decido, embaixador, que haveria mais cooperação de ambos os países para uma proposta que Portugal já tem delineada em seu 24º Programa de Governo, que é fazer do português língua oficial das Nações Unidas até 2030. O Brasil apoia essa proposta?

MAN: Sim. Nós apoiamos essa proposta. Inclusive o Grupo de Trabalho de Cultura e de Língua Portuguesa conversou sobre esse tema. O primeiro passo que vamos tomar com relação a isso é a criação de um grupo de trabalho que vai envolver, evidentemente, diversos segmentos das Chancelarias Portuguesa e Brasileira. Uma das áreas é a área cultural então tanto o Instituto Camões como o Guimarães Rosa estarão envolvidos. Mas também vamos envolver a área geográfica de Portugal e Brasil. Nós vamos envolver a Divisão de Nações Unidas de ambas as Chancelarias. E vamos envolver também as delegações permanentes do Brasil e de Portugal nas Nações Unidas

É um grupo de trabalho importante porque tem de haver uma articulação muito forte entre todas essas áreas para que a gente possa efetivamente levar a cabo esse projeto. Não é um projeto simples. É um projeto bastante ambicioso, mas nós consideramos muito importante.

ON: E é um projeto, e uma decisão que depende dos Estados-membros da ONU. Não é verdade? Como é feita essa concertação diplomática para convencer que uma língua se torne língua oficial?

MAN: Esse é um longo processo que implica treinamento de intérpretes, tradutores. Implica também uma adaptação da linguagem dos tradutores e dos intérpretes à linguagem diplomática das Nações Unidas. Evidentemente, vai envolver a delegação do Brasil e de Portugal no sentido de saber quais são as exigências das Nações Unidas para que a gente possa levar adiante esse projeto. Eu acho que é um projeto muito importante. Em outras instâncias internacionais, nós temos uma participação seja como língua de trabalho, ou seja, como língua que depois pode passar ao status de língua oficial. Mas eu acho que Nações Unidas, é a organização mais importante desse ponto de vista. Nós estamos muito entusiasmados como esse projeto e vamos começar a criar esse grupo em breve e espero ter resultados concretos.

ONU News/Alexandre Soares

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, Cplp, conta com o apoio de Portugal na União Europeia para avançar questões que são relevantes para o bloco

ON: A criação do Guimarães Rosa ocorre num momento de mais interesse pela língua portuguesa. Ele reúne os leitorados que já existiam há dezenas de anos pelo mundo e bem administrados pelo Brasil. Mas qual é a necessidade de se formalizar um instituto nesse momento em nível de política da língua, realizada pelo Brasil, e pelos demais países na CPLP?

MAN: Eu queria dizer umas palavras sobre o programa de leitorado que é um dos mais longevos de diplomacia cultural do Brasil. Tem mais de 70 anos. E houve pessoas extremamente importantes como o próprio Sergio Buarque de Holanda que foi um leitor, Celso Cunha foi leitor. Houve grandes personalidades, intelectuais que foram leitores brasileiros. É fundamental porque realmente é uma política que ajuda a difundir a cultura brasileira. São pessoas que criam laços acadêmicos, culturais muito fortes com outras universidades. E permitem que haja um intercâmbio tanto cultural quanto linguístico também com outros países. Eu acho que a atuação nossa em universidades, na questão educacional é fundamental.  O atual grupo de leitores brasileiros é realmente do mais alto nível. Eu os conheci numa reunião que fizemos em Maputo, Moçambique, no ano passado, e fiquei muito impressionado. São pessoas assim muito empenhadas em difundir o Brasil, a língua portuguesa, e pessoas do mais alto nível acadêmico e intelectual. Então eu acho que é um investimento que nós fazemos para difundir a cultura brasileira, mais do que reconhecido e mais do que necessário.

ON: Embaixador, dia 5 de maio será o Dia Mundial da Língua Portuguesa. E é uma festa em todo mundo porque essa língua vai das Américas à Ásia. Ela vai de Norte a Sul. Ela é falada por 280 milhões de pessoas em pelo menos 10 países porque nós temos os nove países membros da CPLP, mas também temos a Região Administrativa de Macau, na China, onde português é língua oficial até 2049. Então, temos 10 países e territórios, e claro, as diásporas pelo mundo porque há cabo-verdianos, portugueses, brasileiros, moçambicanos em várias partes do mundo. Vamos fazer de conta que eu sou estrangeira e quero aprender português. Por que vale a pena falar português?

MAN: Bom, uma das razões você já deu.  Você terá oportunidade de ter uma comunicação com milhões de pessoas, de diferentes culturas, de diferentes continentes. Só isso já é uma razão importante. Mas eu diria que do ponto de vista cultural, o fato de você aprender o português vai abrir um mundo de cultura, de literatura, de música que, efetivamente, vai enriquecer espiritualmente e culturalmente a sua vida. Por exemplo, escritores como Camões, como José Saramago, no caso de Portugal Eça de Queirós, Fernando Pessoa. E no caso do Brasil, o próprio Guimarães Rosa, Machado de Assis, Clarice Lispector, enfim, dezenas, centenas de outros, também vários africanos de língua portuguesa que são espetaculares. Só isso já justificaria o fato de você aprender uma língua que é muito bonita, muito sonora com vertentes diferentes de sotaque. Mesmo no Brasil tem sotaques muito diversos. Também do ponto de vista musical, do ponto de vista do cinema, da música, arquitetura. Com o conhecimento do português, você vai ter um conhecimento muito amplo da cultura brasileira, da cultura portuguesa e de todos os países de língua portuguesa na África. Então, eu acho que a pessoa só teria a ganhar ao aprender o português.

FIM

*Monica Grayley, da ONU News em Nova Iorque.

Source of original article: United Nations / Nações Unidas (news.un.org). Photo credit: UN. The content of this article does not necessarily reflect the views or opinion of Global Diaspora News (www.globaldiasporanews.net).

To submit your press release: (https://www.globaldiasporanews.com/pr).

To advertise on Global Diaspora News: (www.globaldiasporanews.com/ads).

Sign up to Global Diaspora News newsletter (https://www.globaldiasporanews.com/newsletter/) to start receiving updates and opportunities directly in your email inbox for free.