Daniel Dickinson* 

O Haiti vive uma das crises de segurança mais graves da sua história apesar de um embargo de armas, em vigor desde 2022. Segundo a polícia, as gangues e facções estão controlando cerca de 90% da capital do país, Porto Príncipe.   

Dentre os crimes que aterrorizam a população estão sequestros, extorsões, violações e assassinatos. A população tenta sobreviver em meio a um conflito armado e sem a presença de um Exército oficial. 

Milhares de mortos 

Estima-se que entre 270 mil e 500 mil armas ilegais estejam em circulação no Haiti. O país não fabrica armas nem munições. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, mais de 5.600 pessoas foram mortas apenas em 2024 em consequência direta de confrontos entre gangues. 

A situação é particularmente grave na capital Porto Príncipe, uma cidade de 2,6 milhões de habitantes onde grupos armados disputam o controle de bairros inteiros. Num único ataque, em dezembro de 2024, 207 haitianos foram mortos em apenas cinco dias na zona de Wharf Jérémie.

  

Além dos assassinatos, são relatados casos diários de sequestros, violações e destruição de propriedades, deixando comunidades inteiras sem serviços básicos como saúde e educação. 

Um embargo que não surtiu efeito 

O embargo de armas, imposto pelo Conselho de Segurança da ONU em 2022, proíbe o fornecimento, venda ou transferência de armamentos e assistência militar a indivíduos ou grupos envolvidos na violência no Haiti.  

A medida também estabelece restrições de viagens e congelamento de ativos para pessoas responsáveis por ameaçar a paz e a segurança do país. Contudo, a falta de fiscalização e a casos de corrupção generalizada permitem a continuidade do tráfico. 

Rotas bem estabelecidas ligam portos nos Estados Unidos, especialmente Miami e Nova Iorque, ao Haiti, muitas vezes passando pela República Dominicana. Em fevereiro de 2025, uma remessa interceptada na fronteira dominicana incluía rifles de precisão, uma metralhadora Uzi e mais de 36 mil munições. 

Falhas internas 

As armas chegam ao Haiti escondidas em cargas mistas, declaradas falsamente como produtos humanitários ou comerciais. Também há evidências de envios provenientes da Venezuela e de outros países da América do Sul. 

Em alguns casos, armas registradas para empresas privadas de segurança acabam nas mãos de gangues, o que revela falhas internas graves.  

As autoridades haitianas carecem de recursos para combater o tráfico: o país não possui sequer um scanner de grande porte para inspecionar contentores em portos e fronteiras. A falta de meios técnicos e humanos torna quase impossível conter o fluxo constante de armamento.                                                                                                  

Apoio da ONU e apelo por ação coordenada 

O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, Unodc, tem enfatizado que o cumprimento do embargo requer uma resposta coordenada em níveis nacional, regional e internacional. 

Isso inclui fortalecer o controlo marítimo e fronteiriço, equipar as autoridades haitianas com tecnologia moderna para detectar e interceptar armas e reforçar a cooperação com países de origem e trânsito. 

A ONU também apoia o Haiti com assistência técnica para rastrear armas, reforçar os controles alfandegários e investigar fluxos financeiros ilícitos. O Unodc destaca que combater a corrupção e cortar o fornecimento de munições são passos essenciais para conter a violência.  

Uma nação cercada pelo medo 

Enquanto gangues armadas ditam regras e comunidades inteiras fogem de suas casas, o embargo da ONU permanece mais como uma promessa do que uma barreira efetiva. O Haiti, um país que não fabrica armas, vive hoje cercado por elas.  

Sem uma ação urgente e coordenada, cada bala contrabandeada continuará a custar vidas e a alimentar um ciclo de medo e desespero que já deixou o país à beira do colapso. 

*Daniel Dickinson é redator da ONU News Inglês. 

Source of original article: United Nations / Nações Unidas (news.un.org). Photo credit: UN. The content of this article does not necessarily reflect the views or opinion of Global Diaspora News (www.globaldiasporanews.net).

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