Após 18 meses de cerco em El Fasher, no Norte de Darfur, a insegurança extrema e as violações generalizadas dos direitos humanos, incluindo assassinatos em massa e violência sexual, estão a forçar dezenas de milhares de famílias a fugir, muitas delas sem acesso a água, alimentos ou cuidados médicos.

Ao mesmo tempo, a ONU Mulheres revela que quase 11 milhões de mulheres e meninas estão em situação de insegurança alimentar aguda, com a fome e a violência a afetarem de forma desproporcional as mulheres em todo o país.

Deslocamento em massa e colapso da ajuda humanitária

Amy Pope, diretora-geral da Organização Internacional para Migrações, OIM, afirmou durante visita ao Sudão que sem acesso seguro e financiamento urgente, as operações humanitárias podem colapsar exatamente quando as comunidades mais precisam de ajuda.

Nos últimos 15 dias, cerca de 90 mil pessoas foram deslocadas devido a intensos ataques e combates em El Fasher. Dezenas de milhares continuam presas dentro da cidade, onde hospitais, mercados e sistemas de abastecimento de água entraram em colapso, levando a condições semelhantes à fome.

A violência alastrou também a outras regiões: entre 26 de outubro e 9 de novembro, quase 39 mil pessoas fugiram de combates no Norte de Kordofan, muitas percorrendo longas distâncias a pé, dormindo ao relento e sem acesso a alimentos.

Pessoas que fugiram de El Fasher, em Darfur, recebem ajuda em Tawila, no norte de Darfur

Emergência

A OIM alerta que as operações humanitárias estão à beira da rutura, com armazéns quase vazios e comboios de ajuda bloqueados por falta de segurança. Ainda assim, a agência mantém operações de emergência, incluindo o envio de um comboio de Porto Sudão com abrigo e bens essenciais para 7.500 pessoas deslocadas em Tawila, além de projetos que garantem acesso a água, saneamento e serviços de saúde a 60 mil pessoas no Darfur.

Pope reforça que “o mundo deve agir agora para evitar uma catástrofe ainda maior” apelando a um aumento imediato do financiamento e ao acesso humanitário seguro.

As primeiras vítimas da fome e da violência

De Genebra, Anna Mutavati, diretora regional da ONU Mulheres para a África Oriental e Austral, sublinhou que a fome no Sudão tem rosto feminino.

O novo alerta de género da agência, Gender Dimensions of Food Insecurity in Sudan, revela que 73,7% das mulheres não cumprem os padrões mínimos de dieta, um sinal de desnutrição severa e risco crescente de mortalidade. O relatório ressalta que “ser mulher no Sudão é, neste momento, um dos principais fatores de risco para morrer de fome”.

Em Darfur e Kordofan, as mulheres são as últimas a comer, e muitas vezes não comem nada. Segundo os relatos recolhidos, elas saltam refeições para alimentar os filhos, e adolescentes recebem as menores porções, comprometendo a saúde a longo prazo. Outras arriscam a vida para recolher folhas e bagas selvagens em zonas cercadas, onde são frequentemente vítimas de raptos e violência sexual.

Com a fome oficialmente declarada em El Fasher e Kadugli, mulheres e meninas enfrentam um cenário arrasador: partos nas ruas após o saque e destruição do último hospital de maternidade, desaparecimento de filhos durante fugas caóticas e ausência quase total de apoio psicológico.

Unicef/Ahmed Mohamdeen Elfatih

Famílias deslocadas, com crianças, que fugiram do estado de Sennar em abrigo no sudeste do Sudão, no estado de Kassala

Apelos urgentes por paz e proteção

A ONU Mulheres apelou a um cessar-fogo imediato e à criação de corredores humanitários seguros, enfatizando que as organizações lideradas por mulheres continuam a ser a base da resposta humanitária no terreno.

A agência insta ainda os doadores a reconhecer, financiar e apoiar diretamente essas organizações, que permanecem ativas apesar das condições extremas.

Enquanto a guerra e a fome avançam lado a lado, a ONU alerta que o futuro de milhões de sudaneses, especialmente mulheres e crianças, depende de uma resposta internacional urgente, coordenada e sustentada para restaurar a segurança, a dignidade e a esperança no país.

Source of original article: United Nations / Nações Unidas (news.un.org). Photo credit: UN. The content of this article does not necessarily reflect the views or opinion of Global Diaspora News (www.globaldiasporanews.net).

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